terça-feira, 27 de novembro de 2007

Pelo que realmente importa...II

Então sonhou novamente com algo diferente, algo profundo e real.


Nada de paisagens belas e dos lugares que ele ansiava ir, mas mesmo assim um sonho diferenciado e potente, que trazia a promessa de maior intensidade e profundidade no mundo onírico que ele ansiava em alcançar. Sonhou com amigos comuns e com situações um tanto distorcidas e banais do dia-a-dia, mas também sonhou com personalidades fundidas ao sonho que não faziam parte dele, como se fossem um pedaço de pano alvo em meio a lama, porém visto de longe e apenas rapidamente. Também sonhou que podia voar, e desta vez controlava os lugares para onde ia e a intensidade do vôo, um excelente sinal de controle.


Precisava agora alcançar lugares desejados enquanto no mundo de vigília, e obter o controle do sonho, e isso incluia estar ciênte de que estava sonhando, e não ficar correndo e voando a toa, como que dopado ou ignorante de que se encontrava em um mundo diferente do seu. Na base ele precisava alcançar algumas metas dos sonhadores mais experientes e isso só se conseguia com prática e vontade, sendo que ele já possuia o dom. Funcionava assim:


Antes de deitar-se, fixava o pensamento nos lugares que desejava alcançar e quando sonhava, após os primeiros sonhos leves e distorcidos, se encontrava no lugar que mentalizara enquanto desperto. Nesse sonho pré-programado, por assim dizer, ele tinha o controle de seus atos e apesar de o mundo em si, do “cenário” do sonho, ser forjado por outras mãos que não as suas, ele escolhera estar ali e tinha a capacidade de fazer o que quisesse, desde que tais coisas não interferíssem nas leis do local.


Porém ele também criava possibilidades em um mundo se acreditava fielmente nele, então como tantos outros sonhadores, se ele acreditasse que podia voar e desejasse isso no mundo diúrno, poderia alcançar essa meta no mundo dos sonhos mesmo que esse fosse semelhante ao nosso, aonde não se pode voar sem ajuda de algum aparato ou máquina.


Talvéz quando conquistasse tais metas, pudesse encontrar Lovecraft morando na sua desconhecida Kadath, ou talvéz em Celephais, dependendo do lugar que ele escolhera para passar o resto de seus dias. É óbvio que pessoas como ele e Lord Dunsany não morriam e se iam simplesmente como todas as outras, já que haviam criado e compartilhado com várias outras de tal segredo por vezes ignorado. O segredo de que poderiam criar seu mundo. Mas talvéz Lovecraft tivesse mantido segredo quanto a cidade que criara para ele. Talvéz ela fosse mais fabulosa do que Kadath e Celephais e sobre isso ele só poderia especular vagamente.


Em todos os casos encontraria no seu mundo pessoas conhecidas de eras passadas. Pessoas que o amavam de verdade e que eram as que realmente importavam para ele. Pessoas que esperavam por ele. Lá ele esqueceria de muitas coisas que julgara importantes nesse mundo porque elas seriam ofuscadas quando comparadas com as do seu antigo lar. Lá encontraria o carinho que ninguém sabia lhe dar e morreria nesse mundo para chegar aonde deveria se fosse necessário. Se tornava cada dia mais difícil viver da retribuição de poucos, recebendo quase sempre aversão quando demontrava admiração e carinho. O amor se tornava um artigo cada vez mais raro e, quando presente, machucava mais que tudo, por falta de quem o entendesse e soubesse dar-lhe o devido valor.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Pelo que realmente importa...

Quando começou o primeiro ano na faculdade e mudou-se para a cidade grande, já havia pesquisado muito mais que qualquer outro garoto sobre as paragens oníricas que alguns dos antigos pensadores e sonhadores falavam. Ainda não estava ciente disso. Tinha na leitura apenas um refúgio para as longas tardes e noites vazias quando só pensava nos ares puros e limpos da fazenda onde crescera. Passava horas e horas pensando nos amigos, nos banhos de rio e nas brincadeiras infantis. Tinha um amigo especial que pouca gente podia gabar-se de ter igual e era feliz onde morava antes. Comparada com a tarde mais monótona no lugar onde ele havia crescido, a tarde mais divertida na cidade grande era apenas leve distração. Ansiava pelos fins de semana e pelas horas de folga quando poderia, com a graça dos Outros Deuses, voltar para sua terra natal e rever tudo que ali, no cenário cinza e negro da cidade, apenas parecia o cenário de um sonho distante.


E quando estava caminhando e sonhando pelas estradas de terra da sua cidade natal, sonhava também, com outras dimensões e lugares distantes e aparentemente fora deste mundo. Tentava se transportar o máximo possível para a casa distante, no cume de uma montanha, e de onde podia observar o mais distante vale, e quase tocar o éter espacial quando a noite reinava isenta de lua. E nas noites de lua cheia, observava simultaneamente um crepúsculo vermelho e sanguinolento além do vale de Umhr, e a lua radiante, branca e cinza, surgindo por detrás das montanhas de Silkar, afastadas e silenciosas, espreitando além do vale do rio Skai.


Podia observar o crepúsculo sem precisar sonhar. Subia quase todas as tardes na mais alta árvore do pequeno bosque que rodeava a fazenda e o crepúsculo trazia lembranças e sonhos de mais longe do que ele ia com sua imaginação. Mas o crepúsculo o fazia chorar, como se em um passado remoto ele houvesse partido de um lugar amado, ou perdido a vida nessa hora tão mística do dia. A lua também existia fora dos sonhos e sob a luz dela ele corria pelos campos abertos, coloridos daquele tom azul que só o pessoal que vive no campo conhece. Vivia cada momento naquela luz azul e fria, mágica, que ilumina os sabás e as festas de Walpurgis e sob a qual uivam os lobisomens e as criaturas perdidas e banidas pela claridade solar. E como elas, ele também corria e uivava, sentindo-se mais forte e mais senhor de si do que em qualquer outra hora do dia e da noite.


E ao voltar pra casa deitava-se em sua cama, macia, aproveitando aquela sensação única e confortante dos lençóis gelados e relaxava o pescoço tenso em um travesseiro de penas que sua avó costurara havia anos. Seu amigo muitas vezes já repousava, embalado pelos braços de Reekham, e sonhava com outras coisas que ele desconhecia. Coisas banais. A maior parte meras recordações e cenas pobres feitas a partir de fragmentos de situações do cotidiano, pensava ele com tristeza, por não poder compartilhar de seus sonhos com a pessoa que mais admirava. Então ele partia para mundos oníricos, onde voava e saboreava momentos de pura fantasia, pairando pelos ares acima de sua casa, ao lado de amigos que ele conhecia apenas dos sonhos e pelos quais ansiava por reencontrar. E na manhã seguinte despertava, em uma paz inimaginável, com o cheiro de vida entrando pela janela e perfumando tudo, e mesmo que lembrasse de poucas coisas da noite passada, ainda assim podia saborear com doçura espaços e lapsos do sonho vivido.


Agora ele estava deixando de sonhar, e justamente no momento em que descobria que podia ir mais longe em seus sonhos do que apenas viagens curtas de uma noite. Lendo contos e relatos de escritores antigos e pessoas iluminadas com o dom de sonhar, ele finalmente achava seu caminho e descobria que com alguma concentração poderia penetrar mais profundamente, descobrindo novas terras e pessoas, e talvez até (desejava arduamente que os Outros Deuses lhe permitíssem!!), pudesse se transportar definitivamente ou por tempo generosamente mais longo, para aqueles espaços além das esferas definidas estupidamente pelos homens de cabeças pobres. Seu corpo ficaria aqui, em coma, dormindo ou até mesmo morto, mas ele iria viver sua existência e ser feliz, talvez voltando para ensinar ao seu amigo como sonhar e seguir ao seu lado.


Eram esses os seus planos até o momento em que os sonhos começaram a abandoná-lo. Ansiava arduamente por retomar os sonhos (mesmo que pequenos e pobres de detalhes...curtos) e precisava fazer isso logo, antes que os ares da cidade acabassem com sua inocência e ele perdesse para sempre a chamada Chave De Prata, que abria os portões para as terras dos sonhos mais profundos. Esperava que o ópio, com seu poder entorpecente pudesse ajudá-lo e tinha esperanças fortes de que se lutasse mais arduamente, poderia retomar o caminho esperado.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Para Pensar

No vale de Nis, a maldita lua minguante brilha palidamente, rasgando um caminho para seu clarão com frágeis chifres através da folhagem letal das grandes árvores upas. E nas profundezas do vale, onde a luz não alcança, movem-se formas que não foram feitas para serem vistas. Alinhada está a verdura em cada encosta, onde vinhas malignas e trepadeiras rastejam em meio as pedras de palácios em ruínas, enroscando-se em colunas partidas e estranhos monólitos, e estendendo-se por pisos de mármore assentados por mãos ignotas. E nas árvores que crescem gigantescas em pátios arruinados, saltitam macaquinhos, enquanto venenosas serpentes e inomináveis criaturas escamadas se contorcem para dentro e para fora de profundas criptas subterrâneas.


Enormes são as pedras que dormem cobertas por lençóis de musgo úmido, e poderosas são as paredes de onde elas tombaram. Pois seus construtores as ergueram para durar, e na verdade elas ainda servem nobremente; pois debaixo delas faz sua morada o sapo cinzento.


E no ponto mais profundo do vale corre o rio Mhen, cujas águas são lodosas e repletas de ervas daninhas. De ocultas fontes ele nasce, e para subterrâneas grutas flui para que o Demônio do Vale não saiba porque suas águas são rubras, nem para onde fluem.


O Gênio que habita os raios lunares falou para o Demônio do Vale: “Sou velho e esqueço muito. Conte-me os feitos, e o aspecto, e o nome dos que construíram essas coisas de Pedra.” E o Demônio replicou: “Sou a Memória, e sou versada no conhecimento do passado, mas também sou muito velha. Essas criaturas eram como as águas do rio Mhen, para não serem compreendidas. De seus feitos não me recordo, pois foram passageiros. Seu aspecto, lembro-me vagamente, era parecido com o dos macaquinhos nas árvores. De seu nome lembro-me claramente, pois rimava com o do rio. Essas criaturas do passado chamavam-se “Homem”.


Então o Gênio deslizou de volta para a pálida lua minguante, e o Demônio olhou intensamente para um macaquinho numa árvore que crescia num pátio em ruínas.

Memória - Howard Phillips Lovecraft

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Porque Temos Segredos

"As coisas mais importantes são as mais difíceis de expressar. São as coisas das quais você se envergonha, pois as palavras as diminuem – as palavras reduzem as coisas que pareciam ilimitáveis quando estavam dentro de você à mera dimensão normal quando são reveladas. Mas é mais que isso, não? As coisas mais importantes estão muito perto de onde seu segredo está enterrado, como pontos de referência para um tesouro que seus inimigos adorariam roubar. E você pode fazer revelações que lhe são muito difíceis e as pessoas o olharem de maneira esquisita, sem entender nada do que você disse nem por que eram tão importantes que você quase chorou enquanto estava falando. Isso é pior, eu acho. Quando o segredo fica trancado lá dentro não por falta de um narrador, mas de alguém que compreenda.

Eu tinha doze anos, quase treze, quando vi pela primeira vez um ser humano morto. Foi em 1960, há muito tempo atrás... embora às vezes não me pareça tanto tempo. Principalmente nas noites que acordo sonhando com a chuva de granizo caindo em seus olhos abertos.


"Stephen King, em "Quatro Estações - Outono Da Inocência"

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Luana

Ontem a noite eu tentava dormir

Quando lembrei das chamas frias que calcinaram meu passado.

E que vinham de nenhum outro lugar senão os seus olhos.

Olhos fundos, frios, e prenúncio das loucuras que você viria a trazer ao meu lado. Matando o silêncio da noite com sua voz, que engana a todos que pensam que ela é humana.

Humanamente impossíveis são os teus afagos. Sentidos por magos esquecidos, por alquimistas da ciência proibida e pelos bravos soldados derrotados, que esperam a morte derradeira em meio ao silêncio do campo de batalha, silêncio apenas quebrado pelo riso zombeteiro das hienas e pelo grito aziago de abutres.

Sonhos antigos. Um mundo irreal. Sons como o vento que sopra das catacumbas, que sai ululando daquelas portas de mármore entalhadas por mãos mortas a eras e que quando cruzadas levam aos abismos insondáveis sob a areia, aonde ainda estão em pé, cidades pré humanas talhadas na própria rocha e esquecidas desde tempos imemoriais.

Magia negra feita nas madrugadas, ritos cabalísticos á sombra de salgueiros seculares, necromancia em meio a criptas e ruínas druídicas de pedras, práticas horrendas de licantropia iluminadas pela luz fria e azulada da lua.

Você sempre esteve comigo quando me aventurava nas inúmeras saídas e fugas da realidade destroçante do dia-a-dia.

Você nunca se afastava mas hoje parece ter partido sem motivo.

Você que a tantos causa repulsa, e cuja beleza jovial é sufocada pela idade incomensurável presente em seus próprios olhos.

Você, fria e misteriosa, que carrega a malignidade e a peste nas mãos, a tempestade nos pés, e a morte solitária no coração. Que traz nos cabelos o negrume e a sombra dos abismos mais profundos, e na pele, a alvura do gelo eterno e intocado sobre as montanhas da loucura.

Tu, que conheceu Sarnath quando ela ainda era jovem e próspera, que chorou quando o pequeno garoto ergueu as mãos para o céu e invocou em sua sede de vingança, todos os gatos de Ulthar. Que conheceu e dançou ao lado de Iranon, o jovem príncipe, em sua busca pela sua terra de sonhos, e que já esteve ao lado até mesmo do temido Nyarlathothep, a alma negra do antigo Egito.

Tu, minha amada, de beleza e mistérios maiores que os da própria Nathicana, e a quem me entrego morto, apenas para que me feche os olhos.

Mas os relances de memória não param. Cada vez me chegam mais coisas á mente. E então como um tiro rente aos tímpanos chega um tom que eu conheço a décadas mas que não ousava reproduzir nem mesmo em pensamentos.

Agora sim quase tudo está completo.

Lembro-me agora da estrela polar e dos cantos em códigos, indecifráveis pelos povos comuns, que dela provinham. Cantos esses que você decirava em ondas e irrealidade e tranformava em notas desconhecidas pelos homens mais sábios da música. Tranformava, traduzia, projetava e enviava em uma música inominável, nauseante e que me levou por várias vezes, á diferentes épocas e aos extremos do prazer e da loucura.

Cante novamente, queiram os grandes antigos.

Cante para mim e para o mundo. Sussurre sua música em meu ouvido e segure em meus cabelos e em meu braço para que eu não possa escapar quando a realidade ameaçar me afogar nos mares do infinito e do além, do cósmico e do incompreensível.

Cante e seremos transportados para aquele lugar onde reinam os que já se foram.
Aquele lugar que os mais profundamente viciados no ópio apenas enxergam de relance em meio a uma cortina de almas e fantasmas, não ousando olhar mais de perto.

Cante no meu ouvido....

baixinho e melodioso.....

e serei seu....eternamente seu.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Ninguém

As vezes a gente se pega caminhando, dormindo, sentado no pôr-do-sol ou, enfim, pensando sozinho, e num instante horrível, vê que não tem ninguém. Então você tenta pensar racionalmente e agradecer por todos os amigos que você já tem. Os seus melhores amigos que sempre estiveram ai, na alegria e na tristeza, que te abraçaram, que fizeram de tudo pela gente, e então você se sente ingrato e envergonhado e logo esquece a idéia. Mas lá no fundo em algum lugar, uma parte do coração(ou seja lá o que faz nascer aquele nó na garganta que parece que vai matar de tanta agonia), tem um rombo que cicatriza logo em seguida.

E você segue pensando que está tudo bem.

Que é a pessoa mais feliz do mundo, e realmente você se sente e É a pessoa mais feliz do mundo....até o exato momento no dia seguinte ou no outro em que aquele pedaço volta a se abrir e você sente vontade de largar tudo porque na verdade você é a pessoa mais infeliz do mundo.

Você acaba pensando que não é deste planeta, que a pessoa que vai te completar um dia, não nasce, não te conheçe e nem vai conhecer ou simplesmente se enforcou no cordão umbilical alguns minutos antes de nascer e morreu. Você simplesmente sabe que ela não está ali, até porque essa pessoa não existe, ela não pode existir. Você ganhou um dom maldito e bom. Você é um extraterrestre, em palavras desmedidas. Você não pensa mais em situações financeiras, em pais, mães, parentes e amigos....porque simplesmente é inaceitável aceitar que, logo você, tenha que ser uma pessoa sozinha, com um vazio que NADA no mundo pode fechar. Então você fica tão assustado com a idéia, que retorna ao mundo normal, passa novamente pela fase de vergonha, por reclamar quando tudo está bem, e volta a ser feliz.

E no correr do dia você termina se perguntando se você realmente finge ser uma pessoa feliz ou se você só teve uma crise de carência.

E você jamais vai saber o que foi isso. A não ser, é lógico, que você por acaso encontre essa pessoa. E não é necessariamente um caso de amor a primeira vista. É mais, MUITO MAIS, complexo que isso. Não há necessariamente uma relação física. É basicamente mental.

Você pode acabar batendo um papo com ela ao acaso e ver que em alguns momentos, a mente dos dois parece funcionar em conjunto, que algumas vezes os sentimentos e os pensamentos não são nada mais e nada menos que IGUAIS.

Então você vê que existem enormes diferenças entre vocês dois, mas que essas diferenças podem ter sido moldadas pelo tempo, pelo lugar em que foram criadas, e pela idade. Mas no fundo, nada pode apagar os traços mais fortes, e você amaldiçoa essa pessoa por ela não ter nascido ao seu lado. Por ela não ter sido seu irmão ou irmã. Ou um de seus amigos mais próximos.

E o que mais magoa é que você jamais tem certeza de nada depois disso, porque na verdade, na RAIZ de todas as leis do universo, quanto mais você descobre, mais as coisas ficam complexas porque a vida não é um jogo de espião onde as pistas e as provas esclarecem os fatos. Você acaba mais e mais perdido, e desiste de tentar entender. E você curte os momentos e espera pelo inesperado. Espera pelo que você não sabe.

E um dia tudo fica mais simples...ou não??

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Sem Controle

Acho que a gente deveria ter o controle total da nossa cabeça.

Ser como um daqueles chefes de fábrica que ficam caminhando em cima das pessoas e máquinas, naquelas passarelas de metal, enquanto tem o total conhecimento do que se passa lá embaixo. Seria muito mais fácil de trabalhar os problemas e as decepções. Os vícios, medos, tristezas, angústias e até o nosso futuro em algumas ocasiões.

Mas não é assim.

Quando realmente paramos pra pensar e observamos a vastidão do subconsciente e do inconsciente, a gente se toca de que somos trabalhadores....simples trabalhadores numa mente q é NOSSA. No momento eu fico pensando se eu deveria mudar, se deveria esperar tudo o que vem acontecendo mudar ou se eu me entrego duma vez pra derrota e desisto de tudo, esperando a tão sonhada “luz divina” de que tanto falam quando a gente está na pior.
Tento observar a derrota como algo inconcebível. Algo apenas para os fracos e os pobres de mente, mas apesar de ainda longe, vejo ela cada dia mais perto...se esgueirando e avançando alguns passos, mesmo que pequenos, a cada decepção que eu tenho.

Ao mesmo passo que repudio a derrota, agir é muito difícil. Não tenho peito pra tomar uma decisão e assumir responsabilidades e eu acho muito mais fácil abdicar de coisas boas do que batalhar pra conseguir. Estou matando as ovelhas e cortando os pés de laranja para não ter que me preocupar com os ladrões de animais e frutas.

Juntando-se a tudo isso vem a pressão de vários lados...pressão essa que só me faz ir pro lado contrário. Me obriguem a tirar a carteira de motorista e vocês vão ter alguém que com 20 anos dirige sem carteira. Me cobrem o estudo e vocês vão ter 0 em todas as matérias. Não nasci pra ser pressionado mas por outro lado minha bondade supera isso.

Academia? Sono saudável? Exercícios? Hábitos alimentares?

Isso também me decepciona..cada dia mais ossos e menos músculos. Não pretendo virar um halterofilista com aquele corpo todo musculoso e grande, mas apesar de minha saúde ser de ferro e suportar coisas que a maioria das pessoas nem acreditaria, ela está passando por uma prova de ferro. Pouca comida, as vezes um prato de bife a cada três ou quatro dias, água em quantidade diminuída e hábitos sedentários. Ainda sou forte pro meu tamanho mas sinto minha resistência indo pelo ralo. O sono não fica melhor. Cada dia durmo menos e não é rara a noite em que nem durmo.

Entretenimento?

Ouço rádio e discos de vinil com uma freqüência impressionante. Livros também existem em quantidade. Tentei o auto-ajuda....com grande determinação mas não adiantava mais fingir pra mim mesmo. O terror e a ficção...e as vezes aventura tomam 50% do meu dia e não é raro passar mais de 5 horas em sebos e livrarias a procura de exemplares raros.

O que eu faço de melhor?

Desenvolvo os reflexos e a capacidade mental com exercícios em casa e toco gaita até bem demais para quem só está praticando a alguns meses. Mas cantor não é meu emprego e nem uma profissão de pistoleiro me adiantaria alguma coisa apesar de ser uma ambição. Tudo isso acaba sendo coisa de criança.

Agrônomo.È isso que eu quero ser.

É? Tenho certeza?

O que se passa no lado leste da fábrica enquanto eu estou limpando o óleo derramado na parte sul? E a máquina do lado norte? Continua funcionando ou a ferrugem está corroendo-a peça por peça até que ela definitivamente desmonte inteira?
No oeste as coisas supostamente vão bem mas não me agrada o cheiro de queimado que o vento que entra pela janela traz daquelas áreas. Pode ser que também hajam problemas por lá. E os outros andares? Nem sei quantos a fábrica tem. Já subi uma vez ao qüinquagésimo nono e por lá vi algumas vontades secretas que me arrepiaram. Tortura, morte e alguns atos de maldade que não são característicos de uma mente saudável. Também conheço muito bem o porão mas tudo o que tem lá são caixas e caixas de lembranças velhas....é onde eu mais me ajeito. Tudo conhecido e sob controle. Mas já no primeiro andar onde eu estou agora limpando toda esta zona dessa sujeira, já existem coisas que eu desconheço.

Mas é isso...acho que vou verificar o lado oeste....não gosto mesmo dessa fumaça...

sábado, 16 de junho de 2007

Alguém que nunca existiu

Quando saiu de casa tudo ainda estava normal. Desceu pelo elevador assobiando uma antiga canção militar e seguiu pelos corredores do edifício até a portaria.

Cumprimentou o porteiro e saiu.

Na rua o dia era frio e nublado e chovia vagarosamente.

Ele deveria percorrer todo o trajeto até o mercado público, descendo a escadaria e depois a rua até quase o porto. Depois viraria a direita na praça do mercado e andaria mais 500 metros até o local onde parava seu ônibus todo dia pela manhã. Ao todo teria que percorrer aproximadamente 2 Km da frente do prédio até o ponto.

Parou sentindo o vento frio nos cabelos e olhou para o relógio do telefone celular. Eram 10:26 da manhã. Ele teria aulas de música as 11 horas e o ônibus que chegava no prédio de seu professor saia do ponto exatamente as 10:30. Portanto ele tinha menos de quatro minutos para percorrer aqueles 2 quilômetros em meio a multidão que caminhava desordenadamente parando para olhar vitrines e carregando sacolas e bolsas em uma profusão que desafiava a passagem de qualquer um que se aventurasse contra eles. E dali de cima parecia que todos vinham andando em sentido contrário. Olhou mais uma vez para o relógio:

10:27

O tempo conspirava contra ele. Um velho de 1000 anos caminhando quando precisamos que ele corra, mas um monstro velocista quando nos restam minutos.

Pensou em desistir. Mas quando já se preparava para voltar para casa e esperar até a tarde para o compromisso seguinte, o vento frio o atingiu no rosto. E além do rosto atingiu alguma parte do peito, como se ele houvesse tomado três copos de água quase congelada. Ofegou, virou e desceu as escadas caminhando decidido enquanto o vento rodopiava a sua volta como se fossem cachorros correndo em roda das pernas do dono...sem rumo

Brincando....assassinavam o tempo brincando

Então, como cães de treno que tomam rumo na neve quando ouvem o estalar do chicote, se puseram a correr na mesma direção...os redemoinhos se desfizeram em algo áspero e passavam por ele, empurrando e guiando seus passos. Antes que chegasse ao fim da escada notou uma leveza no corpo como se o próprio vento tivesse se tornado sólido e passasse através dele. Desviou da primeira pessoa, da segunda e quando o choque com a sacola de uma mulher que caminhava em sentido oposto ao seu pareceu inevitável

ele não aconteceu

De alguma forma ele desviou. Continuou caminhando e a mente foi ficando vazia. As pessoas estavam ali e o tempo para elas passava de uma forma mas para ele era como se estivesse em um caminho com um relógio a parte. Então o estalo imediato.

Ele estava na fenda.

O que era a fenda, porque estava ali, o que significava. Nada disso importava. Tudo foi ficando leve e ele caminhava em meio a multidão sem ser impedido. Quando parecia que ele iria bater, no ultimo momento os corpos se transpassavam. Era real tudo aquilo? Era só uma peça de sua mente para que ele fugisse um pouco da mesmice?

Ele tentava pensar. Ele sempre fora um menino lógico e depois de rapaz a sua mente trabalhava com uma velocidade superior a de todos os que ele conhecia.... em alguns pontos... mas por mais que ele tentasse, a situação estava fora de controle.

Ele se soltou e parou de tentar recuperar o controle...se largou a espera do que viria...deixou que o dominassem...então ele entrou fundo na fenda...sem saber o que ela era e nem porque aquele nome lhe retumbava dentro da mente. Caminhou rua abaixo e sentiu que suas pernas perdiam o controle. Agora ele estava andando sozinho em um corredor que parecia descer por algum espaço entre as pessoas. Lembrou imediatamente de uma rampa de lavar carros pois era como se ele estivesse entrando entre os espaços de concreto aonde o carro sobe com os pneus. Mas em décimos de segundo os nomes varreram a imagem da rampa de lavar carros e td ficou nublado.

E ele descia, descia. Cada vez mais....e tudo foi envolvido por uma névoa molhada.
E quando voltou a si, sentiu que tinha um sorriso bobo nos lábios e que trançava as pernas. Os últimos 500 metros ele havia feito fora da realidade. Estava agora em frente ao mercado

Apagou denovo..

Acordou...

Quase na sua parada.

Então subitamente tudo se desfez e ele estava novamente senhor do corpo e da mente. E sentiu que havia escapado de um destino horrível. Que por uma obra de Deus ou de algo a parte desse mundo estava no controle de novo.

Então correu assustado como se algo viesse atrás dele. Sentiu um medo feroz como se um monstro gigante fosse emergir da calçada sob seus pés e levar sua mente de volta para algum lugar de onde nunca deveria ter saído...deixando o corpo fora de si na frente da praça como se ele houvesse sofrido um ataque ou coisa assim. Correu alucinadamente e alcançou o ônibus depois de perceber que a névoa quase o alcançara de novo. Subiu pagou a passagem e sentou no último banco com a intenção de analisar o que havia acontecido.

Então num último impulso que não era dele

Olhou no relógio a tempo de ver o marcador digital passar de 10:28 para 10:29.

Então sentiu que o mundo girava e achou que ia vomitar ali mesmo. Não podia estar acontecendo. Menos de dois minutos.

MENOS DE DOIS MINUTOS

Era o tempo que ele havia levado para ir de sua casa até a parada.

Estava fora das leis do mundo.

De alguma forma alguma coisa estava errada.

Mas ele esqueceu. O fizeram esquecer
Eles sempre faziam.
Quando o alcançaram eles lavaram sua mente das preocupações
E ele lembrou da névoa branca e fria, lembrou do vento.

Então o ônibus começou a andar e ninguém notou o menino que começava a gargalhar no último banco enquanto parecia se fundir com o ar...ninguém notou quando o ele ficou fosco e transparente e quando uma névoa se dissolveu no fundo do carro...deixando nada mais que um espaço vazio.
E quando o cobrador contou apenas 5 pessoas no ônibus enquanto ele tinha seis bilhetes, achou que havia algo errado. Mas logo uma mulher estava a sua frente reclamando a demora do atendimento e ele esqueceu.

O garoto foi dado como desaparecido naquela noite.
Ninguém lembra de nada do que aconteceu com ele.

Mas eu vi algo.Eu dei o terceiro bilhete ao cobrador. Eu estava lá.
De alguma forma eu sei do que aconteceu e isso me assusta.
Quando descia do ônibus uma névoa girou sobre mim e ao meu redor
O vento soprou frio e mais forte

E eu ouvi uma risada insana de algum lugar muito longe e muito fundo para ser daqui.

Era ele...não era?

Bem... acho que isso não vem ao caso.

Estou sentindo um pouco de frio agora e uma névoa estranha esta entrando pela fresta da janela.
Acho que o relógio do computador quebrou.
Estou um pouco tonto. Mas não acho que seja nada.
Vou pegar um copo d' água e já volto.
Esta mesmo frio aqui.
Talvéz....

Se eu abrir a janela e deixar a neblina entrar junto com o que ela carrega as coisas melhorem...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

sem título

Me disseram que ia ser muito bom morar aqui.

Que no começo seria horrível e depois ficaria ótimo.

Cometeram um erro que eu mesmo muitas vezes cometi: me julgaram de acordo com as experiências deles.
Aprender sobre a vida, era o que eu precisava.
Será que onde vivemos as pessoas precisam mesmo aprender sobre a vida, ou deveriam continuar em suas casas no interior, trabalhando em pequenas agriculturas de subsistência e tentando(tentando mesmo) se manter ao máximo em paz com algum espírito natural. Será que precisamos de mais e mais crescimento? Ou seria melhor parar de crescer e aproveitar um pouco o que já temos(e concertar todos os erros).
O som aqui me tortura. O barulho, os ruídos, vozes. Não há um espaço entre elas. É tudo um murmúrio continuo de carros sirenes gritosaviõesbuzinasfreadasventomáquinas.....e até um tiro ocasional.
E quando saio na rua tudo piora. Pessoas batem em você sem saber quem você é e te ignoram como se você nem existisse.E quando não ignoram, se voltam para gritar algumas palavras de ofensa, como se você fosse culpado por estar no caminho. Vendedores por outro lado te tratam como se fossem seus amigos mais íntimos e fazem você acreditar que eles querem que você compre uma roupa porque ela é especial e não porque é cara. Iludem você até o ponto de você gastar todo seu dinheiro em alguma conta bancária ou telefônica porque- sim- ela é melhor e a mais barata que existe!!
Mendigos fazem você acreditar que a culpa é sua por um homem de 30 anos estar atirado na calçada quando nas condições de saúde que ele tem(por vezes melhor que a nossa) poderia muito bem estar trabalhando. E você acaba dando dinheiro pra ele ao contrário do chute na cara que ele merecia( e se você me acha mau, eu lhe garanto, se você estivesse no chão ele não teria pena de você.)
Você é iludido diariamente. Passado para trás sem rancor pelos colegas da faculdade quando o assunto é “vagas limitadas”. Então você se corrompe. Todos mandam que você seja ligeiro, que você seja mal, que os bonzinhos só se fodem. E você se corrompe cada dia mais até chegar a um ponto em que não sabe mais como voltar. Você fica triste porque te levaram a tal ponto e fica mais triste ainda porque sabe que na verdade você caminhou até esse ponto por livre e espontânea vontade. Você tenta agir de acordo com o bom senso, com a ética, com a dignidade e a honestidade. Tenta manter firmes valores que no momento parecem só existir em países além dos oceanos, ou em livros de histórias do século passado. E quando você acha que vão lhe agradecer por ter feito um boa ação você é passado para trás e ainda riem.

Você sonha com uma garota que conheceu na faculdade. Sonha em beija - lá, abraça – lá e contar pra ela coisas do seu íntimo. Ir pra cama com ela. Você vê todo mundo que a cerca e imagina que pessoa linda ela é. Cria uma rede em volta dela onde coloca todas as qualidades que imagina e sabe que ela tem.Você acha que esta apaixonado e quando realiza o sonho de conversar com ela frente a frente vê que o espírito dela é tão lindo quanto uma maça podre(não desmerecendo é lógico uma maçã podre que ainda serve de alimento para alguns animais).

Eu me pergunto. Minha indignação vai servir pra alguma coisa ou só vai levantar murmúrios como se eu estivesse revoltado por gosto próprio??..mais um rebelde sem causa...que ganhou tudo o que queria e se sente injustiçado pelo mundo??..isso o que eu sou??...um soldado marchando contra o exército, ou um rebelde sem causa e sem moral para argumentar??

Acho que sou minoria, mas tenho certeza que mais gente pensa assim.

Isso eu li em algum lugar. “Uma causa não será perdida enquanto houver quem lute por ela.”

Não tenho certeza se era exatamente escrito assim mas o sentido permanece.

Sobre meu futuro e minha real intenção...
Acho que só eu posso responder isso.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Viver Alto

Viver Alto.


A dor era horrível. Minhas costelas se quebravam sozinhas, era o que parecia, e a mão gelada de algum fantasma detestável dilacerava com unhas sujas de carne podre tudo o que tocava dentro do meu corpo. O coração quase nem batia mais e quando o fazia era em espasmos de algo morto recentemente .Com tanta força que todo o peito se dobrava para trás. As veias saltavam no pescoço quase que estourando e o maxilar se projetava pra fora estirando os tendões, veias e músculos da garganta. Os olhos estavam fechados, mas lágrimas escorriam deles abundantemente e, se estivessem abertos, poderia se notar como a pupila se expandia rapidamente tornando o globo ocular inteiramente negro.
A dor nas mãos e nos pés não era menor e de modo algum podia ser ocultada pela dor no peito, pois cada dedo atingia vagarosamente o aspecto de um galho de carvalho cheio de nós, tendo na ponta uma unha marrom, grossa e escamosa. Os joelhos a esta altura se quebravam para trás e logo eu poderia andar tocando o chão só com a ponta de cada um dos pés. Estes por vez aumentavam de comprimento e adquiriam enorme força muscular. As pernas e os braços estavam mais compridos e muito mais fortes e cada músculo permanecia retesado. Vagarosamente cresceu na garganta um gargarejo de dor, raiva.....e prazer, que foi transformado rapidamente em um uivo alto e penetrante, ferindo o ouvido de qualquer um que passasse por ali aquela hora da noite.
As mãos arranhavam o solo desvairadamente enquanto músculos novos iam crescendo no peito que antes era fraco e magro. Já se assemelhava em grande parte a algum atleta ou ginasta olímpico. Quando num relance abriu os olhos injetados de sangue que já eram quase todo negros, e olhou para o próprio corpo que mudava, substituiu esgar maligno no rosto contorcido de dor por um sorriso breve de enorme satisfação.
Queria que todos o vissem agora. Queria que rissem dele e que falassem o quanto era fraco. Iria mostrar para cada um o quão forte poderia ficar quando queria. Iria esmigalhar a traquéia deles com apenas uma mão e deixaria que sufocassem no próprio sangue.
Agora a dor era lancinante e ele se dobrava sobre as próprias costas gemendo num ângulo impossível, esperando que ela passasse e se transformasse na sensação gelada que ele tanto amava...como se metal líquido e frio corresse pelas veias. Queria esquecer de tudo e de todos e apenas correr.
Agora a dor começava a diminuir, as orelhas se espichavam para trás. Algumas costelas ainda mudavam de lugar e o pênis estava muito mior e mais forte que o normal. Quando via o novo órgão reprodutor, em parte colado ao corpo como o de um lobo, lembrava de todas que riam quando ele passava e faziam chacota. Com a nova força quase que selvagem poderia fazer com elas o que bem quisesse e só de pensar em tais coisas, ficava com o pau duro como uma barra de aço. Iria arrancar suas roupas vagarosamente e veria no fundo dos olhos dela que, mesmo enquanto gritavam, ficavam com tesão. Ah, ele sabia que ficavam...podia sentir o cheiro delas... e elas o dele... e isso faria os corpos ferverem. Depois daria o prazer a elas, daria o que todas elas queriam e durante horas manteria o membro pressionado contra seu ventre e quando elas estivessem gemendo afogadas no próprio êxtase rasgaria suas gargantas e, antes que gritassem, beberia do sangue delas.
Não temia nenhum tipo de ameaça. Armas não o feriam mortalmente e nenhum combate corpo a corpo poderia ser perdido. Haviam homens fortes mas ele atingia a altura vantajosa de quase 2, 30m. Ninguém podia detê-lo. Após seus passeios não deixava rastros nem digitais que pudessem ser ligados a sua identidade diurna. Mataria qualquer um que ficasse em seu caminho, mas agia com bom senso evitando ao máximo contato com quem não desejasse se encontrar. Confiava seu segredo a uma pessoa e sabia que com ela ele estava bem guardado. Era seu melhor amigo.
E eu era mais.
Era rápido.
Forte.
Ágil.
E o melhor. Ao contrário do que todos imaginavam, era inteligente. Muito inteligente. E essa era a carta que usava com mais freqüência.
Agora aquilo que todos chamavam metamorfose mas ele reconhecia como nascimento chegava ao fim. Me levantei, espichei o corpo e uivei. A lua era crescente e essa era a hora dele.
Era o momento que ele tinha o controle da situação.
Era o espaço de tempo pelo qual ele esperava dias e noites interminavelmente.
Era naqueles momentos em que ele gostava de estar vivo e se sentia vivo.
Era naqueles momentos e por aqueles momentos que eu vivia.
E o dia seguinte estava muito longe, enterrado a muitos e muitos metros embaixo do solo lamacento da sua mente.
E eu só queria esquecer de tudo.
E eu só queria viver mais alto.
E era isso que ele iria fazer.
Era isso que eu fiz.
Era isso que nós fazemos.

domingo, 20 de maio de 2007

ai denovo...

Urgência de seguir adiante...deixar tuido para trás....seguir o sol até ele se por...


Só dexando uma frase q eu gosto mto...pra não dizer q nunca mais postei...

Enganando eu mesmo...

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Por do sol nas montanhas Catskills...nos EUA...não sei se existe esse lugar...ou se ja não ta tudo debaixo de casas e prédios....só sei que é bonito...um pouco melancólico...mas muito bonito...até meio místico...(fora aquelas vacas é lógico)...mas ta ai ó....

Todos precisam de coisas bonitas mesmo que elas não existam...afinal...o que os olhos não veêm....blá blá

Té mais...

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Sonhando

Ter um jeito de James Dean...
A coragem de um outro astro de cinema..aventureiro...
Ir a marte...ser astronauta...
Conquistar qualquer garota...
Mesmo os indiferentes a tudo..as vezes tem uns sonhos...mesmo que sejam só pra satisfazer a eles mesmos...
No meu caso...no meu dia....no momento...um estilo assim

http://www.youtube.com/watch?v=yhdG-hRFoeQ

Talvéz só decorar a letra da música me faça satisfeito...ou um passo parecido...haha

Pra quem não quer nem saber dos meus sonhos....pelo menos a música é boa...eu acho

A gente vive pelos outros e sonha com o que já morreu
Ou não??

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Porto Alegre....tarde de maio

Ta frio aqui...um garoão....to com saudades de casa...daquele ambiente quentinho e que sempre parece cheio de gente....ainda tou na rua com um pouco de receio de ir pra casa....não pra minha casa "casa"....pro apartamento onde eu moro agora....é legal lá...só que num dia como hoje ele deixa a gente um pouco deprimido...
Mas acho que vou subir...bater um café com uisque...tvéz fumar uma cigarrilha daquelas Villiger ou Dona Rosa, Dona FLor, Dona Maria ou sei lá como se chama....
Assistir um filme daqueles antigos...tvéz hitchcock....ou algum dvd de musica...
Comprei uma erdinger...de trigo...cerveja escura...alemã...bem alcoólica e especial pra dias como hoje...pra esquentar
Mas no mais é isso...to com saudades de casa....dos meus amigos...das minhas coisas....DE CASA PORRA....td mundo sabe o q é casa e eu não vo perde meu tempo aqui tentando explicar uma coisa q não da pra explicar mas que td mundo sabe o q é....
T+

domingo, 6 de maio de 2007

Sina

Nascido pequeno, pequeno criado
Crescido é homem, senhor, é cansado
Tão velho já é, tão indesejado
Um dia ela volta, levar em seus ombros
A vida que trouxe, no tempo passado
O peso da alma, da sua, da nossa
Quem corre quem foge, se esconde, oculta
Não foge da hora, nem tarda o esperado
Nenhum homem vivo, assim se sepulta
Perdido, largado e cheio do mundo
Na sela da morte será carregado.

A vida das coisas.

Um texto perdido, brinquedo estragado
Um sapato velho, um copo quebrado
Nenhum que se preze, e seja usado
Esquece dos marcos, sentidos deixados
Carimbos na alma, por pouca que seja
São vistos por homens, de mente sujeita
E contam histórias, de quem lhe fez uso
Mesmo abandonados, jamais abandonam
E sempre recordam do dono e do caso
E prova do verso aqui rabiscado
Que seja uma casa, de muitas idades
De muitas pessoas, de sangue de raiva
De dias felizes, de noites antigas
A casa de história e vida pesada
E um dia aparece, nesta velha casa
Qualquer que desperte, na alma gravada
Um lado de fúria, de ódio ou de nada
E desde tal dia, na casa que vive
O espírito velho, de própria vontade
Ninguém mais habita, na paz da morada
Pois viva está ela e viva decide
E tem sentimentos, e chama “assombrada”
E colhe sementes, e cria virtudes
E espanta pessoas, abriga fantasmas
E até que num dia, desabe arruinada.
E fraca cai podre, ou forte a derrubam.
E após de há anos, ter sido criada
A alma descansa, na paz desejada.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Tempos Além Do Passado (parte 2)

Não é uma tarefa fácil escrever sobre um assunto totalmente desconhecido e os recursos para descrever algo medonho em toda sua plenitude são drasticamente reduzidos quando a situação é real, pois não há meios de usar a imaginação.

Tomemos, por exemplo, a situação de um escritor de ficção que pretende descrever um animal desconhecido. Se ele não consegue reproduzir com seu vocabulário a cor de um animal, pode mudá-la de acordo com sua vontade, já que tal animal encontra-se em sua mente e fica sujeito a modificações que facilitem sua descrição no papel.

Em se tratando de um relato de algo real, tenho de abdicar de tal regalia e minhas descrições podem não ser exatas.

É fácil imaginar um grifo ou um cachorro de três cabeças mesmo que tais criaturas não existam. Mas uso o exemplo de Cthulhu e Yog Sothoth, criaturas descritas por Lovecraft e que são totalmente inimagináveis, mesmo que se tenha uma noção relativamente clara delas pelo que ele nos passou em suas linhas e linhas carregadas de loucura.
O meu caso é semelhante mas serei sincero em dizer que meu vocabulário não é tão rico como foi o dele.

Não sou um escritor e apesar do vocabulário relativamente grande adquirido de noites a fio absorto em textos de todos os assuntos e autores muitas das sensações ficarão sem uma definição exata.
Por se tratar de algo desconhecido pode se tornar desprovido de realidade, emoção. Mas apesar dos transtornos pelos quais passa minha mente, farei um esforço para não deixa-lo tão cansativo. Mesmo assim não obrigo ninguém a ler tudo o que escrevo caso não se sinta atraído.

Escrevo mais para mim do que para os outros.

Escrevo para passar para o papel parte do que perturba minha mente.

Relembro coisas horríveis apenas olhando para uma mancha de café na toalha...ou quando sinto o cheiro de algo estragado na geladeira....quando tocam duas melodias musicais e as notas se fundem formando um acorde novo e triste.....cheiros e cores que se fundem e adquirem, mesmo que por milésimos de segundo, a força de um furacão que me carrega de volta a lugares e situações que deveriam ser apagadas.....trazem lágrimas aos olhos, velhice ao rosto e depressão profunda a alma.
Fico nesse estado de nostalgia as vezes por horas mesmo que o “flashback” dure apenas segundos.
Não se tratam de vidas passadas ou épocas esquecidas de uma mesma vida......é de algo mais antigo que falo...algo velho....algo que, ao mesmo tempo, me deixa profundamente apavorado e triste e me cobre de saudade quando termina....como se todos meus amigos e família...tudo que eu amei e todo o mundo ao qual eu pertenço(ou pertenci um dia) fosse embora junto com esse momento. E quanto mais se repetem esses lapsos, visões ou seja lá que são, mais longos eles se tornam e menos eu me sinto apegado a realidade em que vivo.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Tempos Além do Passado (parte 1)

Todos lembram de épocas passadas. Não posso afirmar que todos já viveram em épocas passadas ou em outras dimensões. Nem posso lhes dizer do que e de quando exatamente lembram ...não sou mais que um homem para afirmar nada concreto...mas posso dizer com certeza que todos lembram e como todo sonhador antigo posso lhes dizer que...



Uma noite só não basta para que todas as lembranças existentes encham nossa cabeça com as cores, sons e até aromas de épocas passadas.


Me refiro a noite porque somente nos sonhos mais profundos das madrugadas escuras e frias quando a mente encontra-se relaxada e vulnerável ocorrem esses inesperados focos de recordação. Nessas noites são permitidas as torrentes de memória que nos trazem tudo o que já fomos e vivemos. Esses relâmpagos de pura recordação ocorrem como momentos de forte nostalgia, surgindo entre as dezenas de banalidades sonhadas a cada hora de repouso, como um corpo putrefato que emerge assustadoramente real dentre as águas cristalinas imaginárias que são nossos sonhos comuns.
O homem teve a ousadia de definir como razão o que lhe pareceu mais adequado e com isso trancou os canais de sua mente que antes permaneciam abertos aos outros sentidos, como premonições e instinto.
Porém, ao acaso, todos tem a capacidade de experimentar pelo menos uma vez na vida, a visão de como era o antigo mundo, mesmo que tal visão seja esquecida no dia seguinte o despertar. Caso não seja esquecida, será tomada como um pesadelo inominável e carregado de realidade, porém ainda só um simples fruto de nossa imaginação capaz capaz de produzir todo sortilégo de fantasias, pois qualquer relação de tal pesadelo com a realidade levaria a mente humana à beira dos abismos da loucura.

Tenho a infelicidade de lhes dizer que venho tendo desses sonhos a mais de 5 anos e se não me encontro internado em algum sanatório foi porque meu cérebro por algum motivo se manteve e se mantém intacto, motivo este que desconheço e até chego a odiar, pois acho que a própria insanidade seria melhor que tais infinidades de conhecimento armazenadas em uma mente sã.