Com alguns saltos, como que brincando, subiu o aclive gramado que levava aos pavilhões.
As suas costas as duas ou três casas com luzes amarelas elétricas já estavam parecendo deslocadas, como se houvesse atravessado um espelho d` água, um portal de vidro aquoso. Á sua frente os três grandes pavilhões se alteavam imponentes. Construídos pelo seu avô, à cerca de setenta anos atrás, brilhavam fantasmagoricamente sob a luz prateada do luar. A lua crescente parecia clarear somente aquela parte do mundo e, a retaguarda, reinavam as luzes vazias e descoradas dos postes e residências do mundo.
Dos grandes galpões, cheios quase até o teto com pilhas de madeira já cobertas de poeira, um se localizada á sua esquerda, uns dois metros acima, em outro platô, e o outro a sua direita, num terreno plano, cerca de 8 metros abaixo do pequeno morro gramado no qual se encontrava, de modo que ele ficava quase ao nível do telhadoda do prédio logo abaixo. O terceiro estava a sua frente, logo depois de um grande fosso cavado pela água, aonde haviam se acumulado com o passar do tempo grandes vigas de madeira, palanques de cerca e fios de arame e pregos retorcidos.
Um trilho de madeira saia de uma Quarta construção a sua retaguarda, e corria por sobre o grande fosso até o galpão, outrora usado para deslocar grandes toras por sobre vagões até o grande pavilhão. Seguiu em frente, para o galpão do meio, caminhando silenciosamente e triste por sobre os dormentes de madeira, apodrecidos e cobertos de musgo.
Brincava sozinho, pulando por vezes de um trilho para outro, tentando se equilibrar entre a passarela suspensa por onde corriam e a queda provavelmente mortal de uns quatro metros, uns dois ou três centímetros ao lado. O frio agora invadia sorrateiro suas costas. Pensou em se encolher para aquecer-se quando o estranho lhe disse para retirar a jaqueta azul, que estava se tornando incomoda já a algum tempo. Seguiu de camiseta e calças de algodão por sobre os trilhos, agora já coberto pelo telhado de galpão, porém ainda iluminado pela luz da lua um tanto baixa no horizonte a sua direita. As sombras pareciam esconder mil demônios entre as pilhas altas, que não se aventuravam para fora da escuridão para pegá-lo, embora essas criaturas ficariam muito satisfeitas caso fosse um dia de lua nova.
Chegou ao final do galpão, que tinha em torno de 40 metros de comprimento, e ali os trilhos terminavam em um terreno pedregoso e de vegetação baixa, composta de carqueja e pequenas gramíneas, por onde seguiu caminhando. Quando chegou a parte mais elevada do terreno, onde a rocha fria e negra aflorava limpa de qualquer vegetação, um desconforto assumiu seus pés repentinamente, como se estivessem em brasa, e uma estranha frieza que descia do corpo pelas pernas e parasse na altura dos tornozelos sem poder entrar para resfriar a queimação. O estranho mandou que ficasse descalço, porém, ele já havia se adiantado e tirado os dois sapatos de pano e sola fina que usava. Tirou também as meias, e os pés pareceram se adaptar ao terreno gelado. Sentiu uma onda de prazer assomar seu corpo, quando mais frio tomou conta do peito, subindo diretamente das pedras escuras pelas canelas através dos pés descalços, um frio gostoso, como um banho gelado em um dia quente de verão. Parecia que os raios vinham gelados e mortiços diretamente da lua, lá no alto, e entravam por cada poro aberto do seu corpo.
Seguiu correndo, o vento frio invadindo as narinas antes contaminadas por outros ares, e os pulmões pareceram encher se com um sopor de vitalidade. Aumentou a corrida e as pernas foram dobrando, os pés impulsionando fortemente o solo por sobre as lages, sem desconforto ou dor. A camisa começou a esquentar na parte frontal do peito, eliminando parte da sensação de prazer pelo ar gelado da noite naquele local, e era como se estivesse, após um banho, colocando uma roupa suja e suada, que colava no tórax suja e cheia de suor. Sem ordem do estranho rapaz, mas sabendo que fazia a coisa certa retirou a camisa e aumentou a corrida como nunca achara que podia. Chegou a uma construção imponente de madeira forte, os cabelos esvoaçando e o corpo inclinado para a frente e passou por ela com uma rapidez incrível.
Cruzava por uma velha torre de tijolos, erguida a vários séculos por alguém que não conhecia, que nunca estivera ali, e ao olhar para a frente viu campos e rios que já visitara várias vezes antes mas que durante o dia não estavam ali. Lugares de sonho aonde só ele podia ir.
Subindo a direita. chegou no aclive que levava ao planalto a beira do grande paredão vertical, que terminava abruptamente em uma queda de mais de 100 metros antes das terras Prata, povoadas pelos mais insanos criaturas e animais que conhecia, o lugar aonde ele era algo mais que um garoto chorando sentado sob uma viga, com o coração aberto e um nó na garganta, odiando as pessoas que mais amava pela incompreensão de que ele se achava fazer.
Pensou em tudo o que deixava para trás e não se arrependeu de quando, ao chegar na beira do precipício, como em muitas outras noites passadas Se atirou sem medo para abismos de sonho e de luz, aonde voavam criaturas aladas temidas pelo homem antigo, e despencar acima dos campos onde corriam criaturas que só a noite conhecia. Logo sentiu nascer um formigamento em suas costas, em meio as omoplatas, que durou pouco mais que um segundo e um solavanco o puxou para cima, quando as duas asas fortes e escuras irromperam dos dois lados da coluna, e ele alçou vôo, livre, sobre as terras Prata e sobre o Méden de onde só iria sair com o retorno da aurora.
Ou, se possível, nunca.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Na manhã do dia 26 de agosto, Carter enxergou o primeiro bloco de gelo. A nau balançava sonolentamente sobre um mar calmo e límpido, e a várias léguas a pequena mancha branca foi se insinuando contra o fundo azul claro do céu meridional. Não haviam gaivotas mais, e o ar estava limpo e frio como nunca. Nuvens brancas, cirros e estratos formados por milhões de partículas de gelo pintavam o céu a milhares de pés de altura e a imagem das velas brancas infladas contra esse fundo era algo calmo e tranquilizador. A pequena mancha branca se tornou azulada e Carter notou que chacoalhava tranquilamente ao embalo do mar. A massa congelada que a princípio parecia ter poucos pés de altura, logo assomou em maiores proporções, antes ofuscadas pela distância, e quando os alcançou tinha mais de 8 pés de altura. Caso sua rota estivesse na mesma deles, seria prudente desviar, mesmo que há vários dias não o fizessem, sempre seguindo resolutamente perpendiculares ao Equador.
A cada dia o astro rei descrevia um arco mais baixo sobre o horizonte, o frio aumentava, e a nau cotinuava rumando para o sul, fugindo da estrela polar, guardiã de segredos profanos, e se aproximando do continente gelado e das vastidões frias que abrigavam segredos cinzentos dos primórdios dos tempos. Há mais de 28 dias a embarcação se mantinha na mesma direção, sem desviar um grau sequer do sul. O vento ajudava, sempre vindo do norte em lufadas generosas, mas isto não era novidade pois um pacto generoso com Dagon havia sido feito em troca dessas aragens.
Parado na proa, as mãos jovens mas cansadas, os dedos longos agarrados carinhosamente a borda de madeira, Carter olhava sonhador para o grande mar a sua frente. Vestia uma camisa surrada e um colete de lã das cabras de Ulthar, e suas calças de veludo marrom levemente esfarrapadas nas bordas denotavam uma nobreza já perdida há algum tempo. Estava magro e cansado, os cabelos branqueando nas têmporas após aquele derradeiro encontro com o sumo sacerdote que não deve ser descrito, o rastejante caos Nyarlathothep e as viagens em busca de Kadath, passando pela fria e misteriosa Leng, descendo até o maléfico vale de Pnath, nos Abismos Supremos e atravessando todo o mundo onírico, até o chegar ao vazio absoluto no centro do espaço-tempo, onde o informe sultão do caos, Azathoth, se espoja e contorce no éter, ao som da mefítica flauta de mil sons, que leva a beira da insanidade todos que a ouvem .
Parado ali, sonhava dentro de sonhos. Esperava o momento em que o crepúsculo se estabeleceria definitivamente, e uma silhueta cinzenta, pontilhada por blocos brancos e coberta de picos negros basálticos se definiria no horizonte e marcaria o começo de uma nova e derradeira jornada.
A cada dia o astro rei descrevia um arco mais baixo sobre o horizonte, o frio aumentava, e a nau cotinuava rumando para o sul, fugindo da estrela polar, guardiã de segredos profanos, e se aproximando do continente gelado e das vastidões frias que abrigavam segredos cinzentos dos primórdios dos tempos. Há mais de 28 dias a embarcação se mantinha na mesma direção, sem desviar um grau sequer do sul. O vento ajudava, sempre vindo do norte em lufadas generosas, mas isto não era novidade pois um pacto generoso com Dagon havia sido feito em troca dessas aragens.
Parado na proa, as mãos jovens mas cansadas, os dedos longos agarrados carinhosamente a borda de madeira, Carter olhava sonhador para o grande mar a sua frente. Vestia uma camisa surrada e um colete de lã das cabras de Ulthar, e suas calças de veludo marrom levemente esfarrapadas nas bordas denotavam uma nobreza já perdida há algum tempo. Estava magro e cansado, os cabelos branqueando nas têmporas após aquele derradeiro encontro com o sumo sacerdote que não deve ser descrito, o rastejante caos Nyarlathothep e as viagens em busca de Kadath, passando pela fria e misteriosa Leng, descendo até o maléfico vale de Pnath, nos Abismos Supremos e atravessando todo o mundo onírico, até o chegar ao vazio absoluto no centro do espaço-tempo, onde o informe sultão do caos, Azathoth, se espoja e contorce no éter, ao som da mefítica flauta de mil sons, que leva a beira da insanidade todos que a ouvem .
Parado ali, sonhava dentro de sonhos. Esperava o momento em que o crepúsculo se estabeleceria definitivamente, e uma silhueta cinzenta, pontilhada por blocos brancos e coberta de picos negros basálticos se definiria no horizonte e marcaria o começo de uma nova e derradeira jornada.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
SE
Se o tiro não comandas com justeza,
Inteligência e máxima presteza,
Para ceifar o campo com a metralha,
Que ao inimigo as carnes estraçalha;
Se não merece por um só instante,
O inabalável crédito do infante,
Do blindado ou do nobre cavaleiro;
Se te amargas saber que o artilheiro,
Da vitória se torna o trunfo de ouros,
Para que outros vão colher-lhe os louros;
Se algo existe que o ânimo te impeça,
De abraçado morrer a tua peça,
Em holocausto a pátria inesquecível;
Se não te escudas numa calma incrível,
Ante o perigo cheio de inquietude;
Se a lealdade em ti não é virtude,
Que só te abone a prática da ação,
Que vem d´alma como do canhão;
Se das bocas de fogo entre os clarões,
Deus não te crê dos raios e trovões,
Digo-te então:Erraste a vocação !
Para trás, inditoso companheiro !
Não poderás, nunca, ser um Artilheiro !
Inteligência e máxima presteza,
Para ceifar o campo com a metralha,
Que ao inimigo as carnes estraçalha;
Se não merece por um só instante,
O inabalável crédito do infante,
Do blindado ou do nobre cavaleiro;
Se te amargas saber que o artilheiro,
Da vitória se torna o trunfo de ouros,
Para que outros vão colher-lhe os louros;
Se algo existe que o ânimo te impeça,
De abraçado morrer a tua peça,
Em holocausto a pátria inesquecível;
Se não te escudas numa calma incrível,
Ante o perigo cheio de inquietude;
Se a lealdade em ti não é virtude,
Que só te abone a prática da ação,
Que vem d´alma como do canhão;
Se das bocas de fogo entre os clarões,
Deus não te crê dos raios e trovões,
Digo-te então:Erraste a vocação !
Para trás, inditoso companheiro !
Não poderás, nunca, ser um Artilheiro !
quinta-feira, 27 de março de 2008
Preçe de sonhos
Dormir seguindo o ritmo
E não acordar mais
Sonhar fundo
Profundo
Enterrar o que vivemos
Deixar pra trás
Sem remorso
Sem saudade
Esquecimento
Olvido abençoado
Sem arrependimento
Sem culpa pelos que deixamos sós
Deixar de negar
Em toda noite que passa
Um mundo de sonhos bons
Apenas pela responsabilidade
Pensar em si mesmo
E só
Dormir seguindo um ritmo
E não acordar mais
Um sonho de viver
Em sonhos
Mesmo morrendo aqui
Dormir seguindo um ritmo
E não acordar mais
Passar enfim
Dos sonhos fracos do cansaço do dia
E das transparências do que lembramos
Atravessar os portões de mármore
Descer as escadarias
E ao invés de retornar
Com lágrimas nos olhos
E contra a vontade
Passar enfim
Do limíte
Correr colina abaixo e mata adentro
Sob um novo céu e sobre nova terra
Mergulhar em novas águas
Voar
Voar
Voar
Encontrar outros
Voar
E não morrer jamais
Nova vida
Sem arrependimento
Das poucas recordações
Dormir seguindo o ritmo
De sons
E não acordar jamais
Um sonho de viver em sonhos
E não acordar mais
Sonhar fundo
Profundo
Enterrar o que vivemos
Deixar pra trás
Sem remorso
Sem saudade
Esquecimento
Olvido abençoado
Sem arrependimento
Sem culpa pelos que deixamos sós
Deixar de negar
Em toda noite que passa
Um mundo de sonhos bons
Apenas pela responsabilidade
Pensar em si mesmo
E só
Dormir seguindo um ritmo
E não acordar mais
Um sonho de viver
Em sonhos
Mesmo morrendo aqui
Dormir seguindo um ritmo
E não acordar mais
Passar enfim
Dos sonhos fracos do cansaço do dia
E das transparências do que lembramos
Atravessar os portões de mármore
Descer as escadarias
E ao invés de retornar
Com lágrimas nos olhos
E contra a vontade
Passar enfim
Do limíte
Correr colina abaixo e mata adentro
Sob um novo céu e sobre nova terra
Mergulhar em novas águas
Voar
Voar
Voar
Encontrar outros
Voar
E não morrer jamais
Nova vida
Sem arrependimento
Das poucas recordações
Dormir seguindo o ritmo
De sons
E não acordar jamais
Um sonho de viver em sonhos
sábado, 5 de janeiro de 2008
Fui um mago novo.
Não um mago cabalista ou druídico e não da gente que se escondia enquanto a igreja caçava bruxas e a peste negra avolumava corpos nas ruas da Europa durante a idade média.
Muito menos fiz parte dos alquimistas que buscavam a pedra filosofal e com ela o elixir da vida eterna. Pelo contrário, sempre os questionei, não pelos seus métodos, mas pelo que almejavam com tanto fervor.
Que sentido há em prolongar a vida orgânica em um corpo de carne, se é justamente a vida que nos prende? Para que manter a alma firmemente ligada ao corpo nessa esphera comum a todos onde reina o esquecimento e a ignorância? Para que se preservar se no universo e nas outras esferas do tempo existem mais formas de vida e lugares desconhecidos e incompreendidos do que se pode imaginar? Porque insistem algumas pessoas em se manter aqui, para alcançar o conhecimento e a paz perfeita, se o poder e a ascensão se dão justamente quando se passa de mundos e dimensões diferentes para o além? Essa é uma forma de pensar no mínimo levemente aberta. A mente fechada a impede, e enquanto várias pessoas tentam abrir as portas da mente e do coração para as coisas do mundo em que vivemos, bloqueiam sem saber a entrada dos sonhos e revelações de um éther além da vivência humana.
Esse foi o tipo de mago que fui. Vivi não só minha existência nesse mundo como também explorei vivências e experiências indescriptíveis nos universos insondáveis além do que conhecemos como real. Lugares onde a própria geometria beirava o chaos, aonde ângulos e formas nunca são o que parecem ser, e onde o som muitas vezes pode ser tangível, ao mesmo tempo que a luz reage ao tato e coisas firmes são sentidas sem solidez, como se fossem gases apenas parcialmente existentes. Lugares aonde se voa com os pés no chão.
Certa vez me vi deitado de bruços, mas mesmo assim via as coisas como se estivesse sentado, e enquanto tentava me mexer e correr de algo ominoso que se aproximava, via uma criatura parcialmente imcompleta que se remexia e se transladava e tocava um instrumento definitivamente diferente de tudo o que já vi. E dele emanavam ondas de som que lembravam ilusões que temos quando pressionamos com força os dedos sobre os olhos fechados. Visiveis ondas perpendiculares e circulares de cores branca e preta e de outras tonalidades incompreendiveis, que entorpeciam e levavam meu corpo além, como se eu fosse carregado por águas revóltas, ao mesmo tempo que observava tudo como que sentado em uma pedra elevada do chão. E outras coisas rastejavam e despojavam pela sala escura e suja de teto baixo, acompanhando um ritmo mágico saído de cordas sopradas e tocadas com um talento extraterreno.
Dos meus sonhos prefiro não falar sempre, já que são na maior parte indefiníveis, e os que podem ser postos em palavras são excessivamente simples e enjoativos. Meras recordações do dia e da noite. Situações embaralhadas por uma mente fértil e prodigiosa e jogadas a esmo em forma de história na tela dos sonhos.
O que importa são as decisões e conclusões. Descobertas que fiz viajando, se é que pode chamar viajar quando alguém vai a lugares inatingíveis sem sair do lugar.
Não um mago cabalista ou druídico e não da gente que se escondia enquanto a igreja caçava bruxas e a peste negra avolumava corpos nas ruas da Europa durante a idade média.
Muito menos fiz parte dos alquimistas que buscavam a pedra filosofal e com ela o elixir da vida eterna. Pelo contrário, sempre os questionei, não pelos seus métodos, mas pelo que almejavam com tanto fervor.
Que sentido há em prolongar a vida orgânica em um corpo de carne, se é justamente a vida que nos prende? Para que manter a alma firmemente ligada ao corpo nessa esphera comum a todos onde reina o esquecimento e a ignorância? Para que se preservar se no universo e nas outras esferas do tempo existem mais formas de vida e lugares desconhecidos e incompreendidos do que se pode imaginar? Porque insistem algumas pessoas em se manter aqui, para alcançar o conhecimento e a paz perfeita, se o poder e a ascensão se dão justamente quando se passa de mundos e dimensões diferentes para o além? Essa é uma forma de pensar no mínimo levemente aberta. A mente fechada a impede, e enquanto várias pessoas tentam abrir as portas da mente e do coração para as coisas do mundo em que vivemos, bloqueiam sem saber a entrada dos sonhos e revelações de um éther além da vivência humana.
Esse foi o tipo de mago que fui. Vivi não só minha existência nesse mundo como também explorei vivências e experiências indescriptíveis nos universos insondáveis além do que conhecemos como real. Lugares onde a própria geometria beirava o chaos, aonde ângulos e formas nunca são o que parecem ser, e onde o som muitas vezes pode ser tangível, ao mesmo tempo que a luz reage ao tato e coisas firmes são sentidas sem solidez, como se fossem gases apenas parcialmente existentes. Lugares aonde se voa com os pés no chão.
Certa vez me vi deitado de bruços, mas mesmo assim via as coisas como se estivesse sentado, e enquanto tentava me mexer e correr de algo ominoso que se aproximava, via uma criatura parcialmente imcompleta que se remexia e se transladava e tocava um instrumento definitivamente diferente de tudo o que já vi. E dele emanavam ondas de som que lembravam ilusões que temos quando pressionamos com força os dedos sobre os olhos fechados. Visiveis ondas perpendiculares e circulares de cores branca e preta e de outras tonalidades incompreendiveis, que entorpeciam e levavam meu corpo além, como se eu fosse carregado por águas revóltas, ao mesmo tempo que observava tudo como que sentado em uma pedra elevada do chão. E outras coisas rastejavam e despojavam pela sala escura e suja de teto baixo, acompanhando um ritmo mágico saído de cordas sopradas e tocadas com um talento extraterreno.
Dos meus sonhos prefiro não falar sempre, já que são na maior parte indefiníveis, e os que podem ser postos em palavras são excessivamente simples e enjoativos. Meras recordações do dia e da noite. Situações embaralhadas por uma mente fértil e prodigiosa e jogadas a esmo em forma de história na tela dos sonhos.
O que importa são as decisões e conclusões. Descobertas que fiz viajando, se é que pode chamar viajar quando alguém vai a lugares inatingíveis sem sair do lugar.
Assinar:
Postagens (Atom)