Fui um mago novo.
Não um mago cabalista ou druídico e não da gente que se escondia enquanto a igreja caçava bruxas e a peste negra avolumava corpos nas ruas da Europa durante a idade média.
Muito menos fiz parte dos alquimistas que buscavam a pedra filosofal e com ela o elixir da vida eterna. Pelo contrário, sempre os questionei, não pelos seus métodos, mas pelo que almejavam com tanto fervor.
Que sentido há em prolongar a vida orgânica em um corpo de carne, se é justamente a vida que nos prende? Para que manter a alma firmemente ligada ao corpo nessa esphera comum a todos onde reina o esquecimento e a ignorância? Para que se preservar se no universo e nas outras esferas do tempo existem mais formas de vida e lugares desconhecidos e incompreendidos do que se pode imaginar? Porque insistem algumas pessoas em se manter aqui, para alcançar o conhecimento e a paz perfeita, se o poder e a ascensão se dão justamente quando se passa de mundos e dimensões diferentes para o além? Essa é uma forma de pensar no mínimo levemente aberta. A mente fechada a impede, e enquanto várias pessoas tentam abrir as portas da mente e do coração para as coisas do mundo em que vivemos, bloqueiam sem saber a entrada dos sonhos e revelações de um éther além da vivência humana.
Esse foi o tipo de mago que fui. Vivi não só minha existência nesse mundo como também explorei vivências e experiências indescriptíveis nos universos insondáveis além do que conhecemos como real. Lugares onde a própria geometria beirava o chaos, aonde ângulos e formas nunca são o que parecem ser, e onde o som muitas vezes pode ser tangível, ao mesmo tempo que a luz reage ao tato e coisas firmes são sentidas sem solidez, como se fossem gases apenas parcialmente existentes. Lugares aonde se voa com os pés no chão.
Certa vez me vi deitado de bruços, mas mesmo assim via as coisas como se estivesse sentado, e enquanto tentava me mexer e correr de algo ominoso que se aproximava, via uma criatura parcialmente imcompleta que se remexia e se transladava e tocava um instrumento definitivamente diferente de tudo o que já vi. E dele emanavam ondas de som que lembravam ilusões que temos quando pressionamos com força os dedos sobre os olhos fechados. Visiveis ondas perpendiculares e circulares de cores branca e preta e de outras tonalidades incompreendiveis, que entorpeciam e levavam meu corpo além, como se eu fosse carregado por águas revóltas, ao mesmo tempo que observava tudo como que sentado em uma pedra elevada do chão. E outras coisas rastejavam e despojavam pela sala escura e suja de teto baixo, acompanhando um ritmo mágico saído de cordas sopradas e tocadas com um talento extraterreno.
Dos meus sonhos prefiro não falar sempre, já que são na maior parte indefiníveis, e os que podem ser postos em palavras são excessivamente simples e enjoativos. Meras recordações do dia e da noite. Situações embaralhadas por uma mente fértil e prodigiosa e jogadas a esmo em forma de história na tela dos sonhos.
O que importa são as decisões e conclusões. Descobertas que fiz viajando, se é que pode chamar viajar quando alguém vai a lugares inatingíveis sem sair do lugar.
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