quarta-feira, 23 de maio de 2007

Viver Alto

Viver Alto.


A dor era horrível. Minhas costelas se quebravam sozinhas, era o que parecia, e a mão gelada de algum fantasma detestável dilacerava com unhas sujas de carne podre tudo o que tocava dentro do meu corpo. O coração quase nem batia mais e quando o fazia era em espasmos de algo morto recentemente .Com tanta força que todo o peito se dobrava para trás. As veias saltavam no pescoço quase que estourando e o maxilar se projetava pra fora estirando os tendões, veias e músculos da garganta. Os olhos estavam fechados, mas lágrimas escorriam deles abundantemente e, se estivessem abertos, poderia se notar como a pupila se expandia rapidamente tornando o globo ocular inteiramente negro.
A dor nas mãos e nos pés não era menor e de modo algum podia ser ocultada pela dor no peito, pois cada dedo atingia vagarosamente o aspecto de um galho de carvalho cheio de nós, tendo na ponta uma unha marrom, grossa e escamosa. Os joelhos a esta altura se quebravam para trás e logo eu poderia andar tocando o chão só com a ponta de cada um dos pés. Estes por vez aumentavam de comprimento e adquiriam enorme força muscular. As pernas e os braços estavam mais compridos e muito mais fortes e cada músculo permanecia retesado. Vagarosamente cresceu na garganta um gargarejo de dor, raiva.....e prazer, que foi transformado rapidamente em um uivo alto e penetrante, ferindo o ouvido de qualquer um que passasse por ali aquela hora da noite.
As mãos arranhavam o solo desvairadamente enquanto músculos novos iam crescendo no peito que antes era fraco e magro. Já se assemelhava em grande parte a algum atleta ou ginasta olímpico. Quando num relance abriu os olhos injetados de sangue que já eram quase todo negros, e olhou para o próprio corpo que mudava, substituiu esgar maligno no rosto contorcido de dor por um sorriso breve de enorme satisfação.
Queria que todos o vissem agora. Queria que rissem dele e que falassem o quanto era fraco. Iria mostrar para cada um o quão forte poderia ficar quando queria. Iria esmigalhar a traquéia deles com apenas uma mão e deixaria que sufocassem no próprio sangue.
Agora a dor era lancinante e ele se dobrava sobre as próprias costas gemendo num ângulo impossível, esperando que ela passasse e se transformasse na sensação gelada que ele tanto amava...como se metal líquido e frio corresse pelas veias. Queria esquecer de tudo e de todos e apenas correr.
Agora a dor começava a diminuir, as orelhas se espichavam para trás. Algumas costelas ainda mudavam de lugar e o pênis estava muito mior e mais forte que o normal. Quando via o novo órgão reprodutor, em parte colado ao corpo como o de um lobo, lembrava de todas que riam quando ele passava e faziam chacota. Com a nova força quase que selvagem poderia fazer com elas o que bem quisesse e só de pensar em tais coisas, ficava com o pau duro como uma barra de aço. Iria arrancar suas roupas vagarosamente e veria no fundo dos olhos dela que, mesmo enquanto gritavam, ficavam com tesão. Ah, ele sabia que ficavam...podia sentir o cheiro delas... e elas o dele... e isso faria os corpos ferverem. Depois daria o prazer a elas, daria o que todas elas queriam e durante horas manteria o membro pressionado contra seu ventre e quando elas estivessem gemendo afogadas no próprio êxtase rasgaria suas gargantas e, antes que gritassem, beberia do sangue delas.
Não temia nenhum tipo de ameaça. Armas não o feriam mortalmente e nenhum combate corpo a corpo poderia ser perdido. Haviam homens fortes mas ele atingia a altura vantajosa de quase 2, 30m. Ninguém podia detê-lo. Após seus passeios não deixava rastros nem digitais que pudessem ser ligados a sua identidade diurna. Mataria qualquer um que ficasse em seu caminho, mas agia com bom senso evitando ao máximo contato com quem não desejasse se encontrar. Confiava seu segredo a uma pessoa e sabia que com ela ele estava bem guardado. Era seu melhor amigo.
E eu era mais.
Era rápido.
Forte.
Ágil.
E o melhor. Ao contrário do que todos imaginavam, era inteligente. Muito inteligente. E essa era a carta que usava com mais freqüência.
Agora aquilo que todos chamavam metamorfose mas ele reconhecia como nascimento chegava ao fim. Me levantei, espichei o corpo e uivei. A lua era crescente e essa era a hora dele.
Era o momento que ele tinha o controle da situação.
Era o espaço de tempo pelo qual ele esperava dias e noites interminavelmente.
Era naqueles momentos em que ele gostava de estar vivo e se sentia vivo.
Era naqueles momentos e por aqueles momentos que eu vivia.
E o dia seguinte estava muito longe, enterrado a muitos e muitos metros embaixo do solo lamacento da sua mente.
E eu só queria esquecer de tudo.
E eu só queria viver mais alto.
E era isso que ele iria fazer.
Era isso que eu fiz.
Era isso que nós fazemos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu tenho esse texto ainda salvo no meu PC,gosto muito dele..Já te falei várias vezes,né?Eu ando meio relapso cuntigo no MSN,meio sem responder,ou demorando,ou enfim...Eu não sei direito o que tá acontecendo.Eu tô bem,só ando bastante melancólico.Sabe quando você está começando a ficar bêbado e fica com cara de imbecil?Eu fico assim,quase o dia todo...Quando eu falo isso parece triste,mas não necessáriamente é.Eu não sei...Talvez devesse ir pra SP e gastar todo o meu dinheiro em bares e com prostitutas(só pra conversar com elas),como o Holden fez!Ia ser 100%....Abraço