Então sonhou novamente com algo diferente, algo profundo e real.
Nada de paisagens belas e dos lugares que ele ansiava ir, mas mesmo assim um sonho diferenciado e potente, que trazia a promessa de maior intensidade e profundidade no mundo onírico que ele ansiava em alcançar. Sonhou com amigos comuns e com situações um tanto distorcidas e banais do dia-a-dia, mas também sonhou com personalidades fundidas ao sonho que não faziam parte dele, como se fossem um pedaço de pano alvo em meio a lama, porém visto de longe e apenas rapidamente. Também sonhou que podia voar, e desta vez controlava os lugares para onde ia e a intensidade do vôo, um excelente sinal de controle.
Precisava agora alcançar lugares desejados enquanto no mundo de vigília, e obter o controle do sonho, e isso incluia estar ciênte de que estava sonhando, e não ficar correndo e voando a toa, como que dopado ou ignorante de que se encontrava em um mundo diferente do seu. Na base ele precisava alcançar algumas metas dos sonhadores mais experientes e isso só se conseguia com prática e vontade, sendo que ele já possuia o dom. Funcionava assim:
Antes de deitar-se, fixava o pensamento nos lugares que desejava alcançar e quando sonhava, após os primeiros sonhos leves e distorcidos, se encontrava no lugar que mentalizara enquanto desperto. Nesse sonho pré-programado, por assim dizer, ele tinha o controle de seus atos e apesar de o mundo em si, do “cenário” do sonho, ser forjado por outras mãos que não as suas, ele escolhera estar ali e tinha a capacidade de fazer o que quisesse, desde que tais coisas não interferíssem nas leis do local.
Porém ele também criava possibilidades em um mundo se acreditava fielmente nele, então como tantos outros sonhadores, se ele acreditasse que podia voar e desejasse isso no mundo diúrno, poderia alcançar essa meta no mundo dos sonhos mesmo que esse fosse semelhante ao nosso, aonde não se pode voar sem ajuda de algum aparato ou máquina.
Talvéz quando conquistasse tais metas, pudesse encontrar Lovecraft morando na sua desconhecida Kadath, ou talvéz em Celephais, dependendo do lugar que ele escolhera para passar o resto de seus dias. É óbvio que pessoas como ele e Lord Dunsany não morriam e se iam simplesmente como todas as outras, já que haviam criado e compartilhado com várias outras de tal segredo por vezes ignorado. O segredo de que poderiam criar seu mundo. Mas talvéz Lovecraft tivesse mantido segredo quanto a cidade que criara para ele. Talvéz ela fosse mais fabulosa do que Kadath e Celephais e sobre isso ele só poderia especular vagamente.
Em todos os casos encontraria no seu mundo pessoas conhecidas de eras passadas. Pessoas que o amavam de verdade e que eram as que realmente importavam para ele. Pessoas que esperavam por ele. Lá ele esqueceria de muitas coisas que julgara importantes nesse mundo porque elas seriam ofuscadas quando comparadas com as do seu antigo lar. Lá encontraria o carinho que ninguém sabia lhe dar e morreria nesse mundo para chegar aonde deveria se fosse necessário. Se tornava cada dia mais difícil viver da retribuição de poucos, recebendo quase sempre aversão quando demontrava admiração e carinho. O amor se tornava um artigo cada vez mais raro e, quando presente, machucava mais que tudo, por falta de quem o entendesse e soubesse dar-lhe o devido valor.